Recentemente, o Hospital das Clínicas de São Paulo realizou o primeiro transplante de útero entre pacientes vivas na América Latina. De acordo com o Dr. Eduardo Motta, especialista em reprodução assistida e fundador da clínica Huntington Medicina Reprodutiva, este procedimento vem sendo estudado há mais de uma década pelo pesquisador sueco Mats Bramström, sendo realizado desde 2020 em alguns países, o que, segundo o especialista, representa uma grande inovação na área da reprodução assistida, já que oferta esperança a milhares de mulheres que enfrentam a impossibilidade de gestar.
“No mundo, cerca de um milhão de mulheres enfrentam a infertilidade relacionada a incapacidade do útero em propiciar um ambiente adequado para a gestação. Neste sentido, o transplante de útero é uma alternativa viável para estas mulheres, que não podem passar pela gravidez espontaneamente devido a condições médicas, como a não formação ou agenesia uterina, complicações de cirurgias, como curetagem ou sequelas de tratamentos de rádio e quimioterapia, por exemplo”, explica o médico.
De acordo com o Dr. Eduardo, contudo o transplante uterino é um procedimento cirúrgico complexo, indicado para mulheres que possuem um impedimento significativo na formação ou na integridade do útero.
“A cirurgia é delicada porque no transplante, existe a necessidade de restabelecer a vascularização do útero, fundamental para nutrição e funcionamento do órgão. Uma vez que o útero transplantado é aceito pelo organismo da receptora, a transferência de embriões deve ser programada, o mais breve possível, pois a mulher que recebe o transplante uterino, preciso manter o uso de medicações imunossupressoras. Assim, o casal já passou pelo ciclo de fertilização in vitro, com o estímulo da ovulação e a obtenção de embriões de boa qualidade, para serem transferidos no útero transplantado, quando adequado. Estima-se que este tempo médio seja de 06 meses, para que ela receba seus embriões”, destaca o médico.
Mas, o especialista ressalta que, apesar do potencial de sucesso, o transplante uterino não é isento de riscos. Segundo o Dr. Eduardo, alguns estudos indicam que entre 70% e 80% dos transplantes são bem-sucedidos, mas um percentual de 20% a 30% apresenta complicações relacionadas à revascularização ou à resposta imunológica do corpo.
“Para mitigar estes riscos, as mulheres que passam pelo transplante uterino precisam usar uma dose de imunossupressores durante todo o tempo em que estiverem com o útero. Isso começa a partir do transplante até o nascimento do bebê, o que significa que elas devem estar cientes das implicações desse tratamento ao longo da gestação. Após a realização do parto, uma nova cirurgia para remover o útero transplantado, evitando assim a necessidade contínua de medicamentos imunossupressores”, destaca.